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Foto do escritorWilliam R. Schepis

Sete dias sem tratores nas praias de São Vicente


A solução de um problema social tem início quando a sociedade reconhece o problema.

São Vicente passa por uma grave crise administrativa, apresenta problemas de infraestrutura, segurança, saúde, educação e claro, problemas ambientais. Ironicamente, sua má administração serviu para tornar evidente à população o real quadro da poluição marinha no estuário de Santos.

Com a interrupção da limpeza das praias, o lixo trazido por marés e ondas se acumulou na faixa de areia da praia do Itararé, em São Vicente
Com a interrupção da limpeza das praias, o lixo trazido por marés e ondas se acumulou na faixa de areia da praia do Itararé, em São Vicente

Funcionários da Companhia de Desenvolvimento de São Vicente (Codesavi) entraram em greve no dia 8 de junho, paralisando a coleta de lixo na cidade, o que na Baixada Santista inclui garis e tratores para recolhimento de lixo que o mar despeja diariamente na faixa de areia das praias. Resultado, frequentadores e repórteres começaram a se manifestar sobre o lixo acumulado nas praias de São Vicente.

Imprensa se manifesta após lixo tomar as praias de São Vicente.
Imprensa se manifesta após lixo tomar as praias de São Vicente.
Imprensa se manifesta após lixo tomar as praias de São Vicente.
Imprensa se manifesta após lixo tomar as praias de São Vicente.

No último sábado (18) estivemos bem cedo na praia do Itararé para qualificar os resíduos presentes na preamar da faixa de areia, e assim identificarmos as fontes poluidoras. Não foi surpresa constatarmos que mais de 90% dos resíduos tinham origem domiciliar, provenientes do descarte em áreas de mangue invadidas por favelas de palafitas nos municípios de Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá, que margeiam o estuário de Santos. Logo após a análise dos resíduos, acompanhamos o trabalho de coleta realizado por trabalhadores da Codesavi, que voltaram de greve assim que a prefeitura realizou o pagamento dos salário atrasados.

Para combatermos a poluição marinha em nossa região, é de suma importância que a sociedade compreenda que o lixo acumulado nas praias de São Vicente não é resultado da greve dos trabalhadores da Codesavi, não é resultado somente da má gestão do prefeito Bili, não é culpa dos "paulistas" (como muitos moradores se referem aos turistas) e também não é culpa dos navios que atracam no porto de Santos. É resultado de décadas de falta de vontade política para resolver o problema das submoradias em áreas de preservação permanente nas periferias das cidades. É resultado do pífio investimento em políticas habitacionais condizentes com a absurda realidade socioambiental onde milhares de famílias vivem em áreas insalubres e de vulnerabilidade social. Mas sobretudo, é resultado de décadas de descaso, de falta de amor e respeito ao próximo e à natureza.

Resíduos de todos os tipos são descartados diretamente no manguezal. São diversas embalagens de produtos alimentícios, de limpeza, cosméticos, fármacos, sacolas plásticas, móveis, eletroeletrônicos, vestuário, etc. Além de todo o esgoto, óleo de cozinha e a água das máquinas de lavar roupa.
Resíduos de todos os tipos são descartados diretamente no manguezal. São diversas embalagens de produtos alimentícios, de limpeza, cosméticos, fármacos, sacolas plásticas, móveis, eletroeletrônicos, vestuário, etc. Além de todo o esgoto, óleo de cozinha e a água das máquinas de lavar roupa.

Dona Maria, mãe de 17 filhos, dos quais 12 sobreviveram, tem 55 netos e 6 bisnetos. Ao todo, 73 descendentes, dos quais 22 moram com ela em uma palafita de 30 metros quadrados, em Santos.
Dona Maria, mãe de 17 filhos, dos quais 12 sobreviveram, tem 55 netos e 6 bisnetos. Ao todo, 73 descendentes, dos quais 22 moram com ela em uma palafita de 30 metros quadrados, em Santos.

Claro, existem outras fontes de poluição marinha em nossa região, que juntas correspondem a cerca de 20% dos resíduos coletados em nossas ações voluntárias, realizadas em diversas praias da região. Essas fontes estão relacionadas sobretudo às atividades pesqueiras e ao consumo de comida, bebida e cigarro nas praias. Para esses casos, necessitamos urgentemente de políticas públicas voltadas para educação, fiscalização e punição.

Desde sua fundação em 2008, o Instituto EcoFaxina busca alertar governo, imprensa e sociedade sobre o problema da poluição marinha no estuário de Santos, que possui principal fonte de resíduos as favelas de palafitas. Como entidade do terceiro setor, entendemos que nosso principal parceiro deva ser o ente público, responsável direto pelas questões ambientais no município. Mantemos diálogo permanente com diversos órgãos públicos municipais, buscando apoio sobretudo para a implementação de uma frente de trabalho formada por jovens desempregados moradores de palafitas para o trabalho diário de limpeza, reciclagem e reflorestamento de áreas degradas de mangue na Zona Noroeste de Santos.

Jovem coleta garrafas PET em manguezal de Santos. O PET sujo coletado no mangue possui tem valor quando não beneficiado. Desde 2009, muitos jovens da região torcem para que ocorra a parceria entre a Prefeitura de Santos e o Instituto EcoFaxina, o que para eles significará um trabalho com melhores condições de segurança e aumento na geração de renda.
Jovem coleta garrafas PET em manguezal de Santos. O PET sujo coletado no mangue possui tem valor quando não beneficiado. Desde 2009, muitos jovens da região torcem para que ocorra a parceria entre a Prefeitura de Santos e o Instituto EcoFaxina, o que para eles significará um trabalho com melhores condições de segurança e aumento na geração de renda.

O diálogo com a Prefeitura de Santos teve inicio na gestão (2008 - 2012) do prefeito João Paulo Tavares Papa (PMDB), hoje deputado federal pelo PSDB, com a elaboração em 2009 do Projeto Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos, no qual o governo municipal realiza a cessão de uma área próxima à margem do rio dos Bugres para a construção de um galpão por meio de parcerias entre o Instituto EcoFaxina e a iniciativa privada.

Durante a gestão Papa, o projeto quase saiu do papel, chegando a ser anunciado à imprensa pelo então secretário do meio ambiente, Flávio Rodrigues Correia, que comandou a Semam de 2005 à 2010, sendo substituído por Fábio Alexandre de Araújo Nunes, o professor Fabião, biólogo, ambientalista, e até então vereador e "padrinho" do Instituto EcoFaxina, exercendo fundamental apoio para o início de nossas atividades. Hoje é secretário de cultura de Santos e nosso conselheiro estatutário e associado benemérito.

Professor Fabião posa para foto com crianças da comunidade durante ação voluntária em manguezal de Santos.
Professor Fabião posa para foto com crianças da comunidade durante ação voluntária em manguezal de Santos.

No segundo semestre de 2011, fomos procurados pela equipe de campanha do atual prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) para contribuirmos na elaboração de seu plano de governo para a área ambiental. Participamos de diversas reuniões em que discutimos, sobretudo, a questão da poluição marinha, onde apresentamos o projeto Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos, que já se encontrava na Semam como um processo administrativo da prefeitura. O projeto entraria como prioridade no plano de cem dias de governo, sendo firmada uma parceria entre a prefeitura de Santos e o Instituto EcoFaxina, possibilitando a sua implantação, e contemplando parte das metas ambientais do projeto Santos Novos Tempos.

Rogério Custódio, chefe do Departamento de Assuntos Legislativos, William Rodriguez Schepis, diretor-presidente do Instituto EcoFaxina, Paulo Alexandre Barbosa, prefeito de Santos e Kenny Mendes, vereador de Santos, durante reunião ocorrida em março de 2015 para tratar da implantação do Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos.
Rogério Custódio, chefe do Departamento de Assuntos Legislativos, William Rodriguez Schepis, diretor-presidente do Instituto EcoFaxina, Paulo Alexandre Barbosa, prefeito de Santos e Kenny Mendes, vereador de Santos, durante reunião ocorrida em março de 2015 para tratar da implantação do Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos.

O prefeito Paulo Alexandre Barbosa, o líder comunitário André Ribeiro e o diretor-presidente William Rodriguez Schepis durante visita ao canteiro de obras do projeto Santos Novos Tempos.
O prefeito Paulo Alexandre Barbosa, o líder comunitário André Ribeiro e o diretor-presidente William Rodriguez Schepis durante visita ao canteiro de obras do projeto Santos Novos Tempos.

Apesar da vontade do prefeito, que se mostrou preocupado com a pauta durante algumas reuniões que tivemos nos últimos quatro anos, a Secretaria do Meio Ambiente passou por diversas transições de comando, o que atrasou o andamento interno do processo, tendo à frente o advogado Luciano Cascione, o advogado e biólogo Luciano Pereira de Souza, a arquiteta Marise Céspede Tavolaro, e conta desde setembro de 2015 com a também arquiteta, Débora Branco Bastos Dias, com quem o processo avançou bastante, e conseguimos finalizar a minuta do Termo de Cooperação Técnica neste semestre, que deverá seguir agora para parecer da Procuradoria e posterior encaminhamento ao Gabinete do Prefeito.

Somente através da limpeza e do reflorestamento de áreas degradadas de mangue poderemos juntos congelar o avanço das invasões, educar e diminuir gradualmente o aporte de lixo no mar e nas praias da região.

Enormes quantidades de plástico se acumulam em costões rochosos da região.
Enormes quantidades de plástico se acumulam em costões rochosos da região.

Plástico e propágulos de mangue, em comum a mesma origem.
Plástico e propágulos de mangue, em comum a mesma origem.

Câmara Municipal

O Instituto EcoFaxina atua também junto aos vereadores, e tem conseguido apoio sobretudo do vereador Kenny Mendes (PSDB) que criou um projeto de Lei de Utilidade Pública, sancionada pelo prefeito , projeto de Lei que multa quem descarta lixo em áreas públicas, e projeto de Lei para a compra de ecobarreiras, para serem utilizadas no projeto Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos. O Instituto EcoFaxina vem recebendo diversos votos de congratulação da Câmara Municipal de Santos pelo trabalho que desenvolve na cidade.

Ações Voluntárias

Sim, nossas ações limpam. Nossos voluntários retiram enormes quantidades de plástico de ambientes naturais, principalmente de manguezais, resíduos que poderiam causar danos à fauna. Contudo, além de limpar, as ações voluntárias organizadas pelo Instituto EcoFaxina no estuário de Santos tem como objetivo, principal, conscientizar a sociedade que de nada adianta continuarmos coletando resíduos que chegam às praias pelo mar sem que direcionemos nossos olhares e esforços para transformarmos a realidade dos manguezais e das milhares de famílias que vivem em condições inaceitáveis em uma cidade rica como Santos, que abriga o maior porto do Brasil e da América Latina, e que deveria dar exemplo de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental para outras prefeituras do Brasil. Lutamos por políticas públicas de habitação, saneamento básico, educação e recuperação ambiental porque acreditamos ser a maneira mais eficaz no combate à poluição marinha no estuário de Santos e São Vicente. Se quiser praias mais limpas e evitar que animais marinhos ingiram plástico e morram, a população deve cobrar seus por esses direitos básicos, garantidos pela constituição federal. A falta de investimento em saneamento básico acarreta prejuízos para áreas como saúde, turismo, pesca e navegação. Investir em saneamento é básico. Por um mar sem lixo!

Voluntários coletam plástico durante ação voluntária em manguezal de Santos.
Voluntários coletam plástico durante ação voluntária em manguezal de Santos.

Voluntários posam para foto após coletarem 153 kg de resíduos da praia de Itaquitanduva, em São Vicente.
Voluntários posam para foto após coletarem 153 kg de resíduos da praia de Itaquitanduva, em São Vicente.

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