Qual seria a melhor estratégia para diminuirmos a quantidade de plástico nos oceanos? Se quisermos oceanos livres do plástico devemos, antes de tudo, entender de fato o problema para buscarmos soluções eficazes.
A cada ano 8 milhões de toneladas de plástico entram nos oceanos. Os oceanos contém hoje pelo menos 5 trilhões de pedaços de plástico em seus ecossistemas, média de 700 pedaços por humano no planeta, cerca de 250.000 toneladas.
Nos últimos tempos tenho ouvido falar muito sobre projetos que, da forma como são tratados pela mídia, "prometem salvar os oceanos do plástico". Especialmente dois projetos, o The Ocean Cleanup Project - Projeto Limpeza do Oceano em inglês - , criado pelo jovem holandês Boyan Slat, e o Seabin Project - Projeto Lixeira Marinha em inglês, criado pelos australianos Andrew Turton e Pete Ceglinski.
Vamos analisar os dois projetos para sabermos mais sobre como cada um funciona, começando pelo "Projeto de Limpeza do Oceano".
Focado na limpeza no meio do oceano, o Ocean Cleanup Project pretende coletar plástico no Giro Subtropical do Pacífico Norte através de uma rede gigante, o que no meu ponto de vista não se caracteriza uma estratégia viável. Sem entramos em aspectos técnico-operacionais como tempestades oceânicas, rotas de navegação e distância da costa. Em seu site o projeto possui a seguinte descrição: "O primeiro método viável para livrar os oceanos do plástico. O objetivo do Ocean Cleanup Project é extrair, prevenir e interceptar a poluição por plástico, iniciando a maior limpeza da história". O início das operações está previsto para 2020.
"Lixeira do mar"
O Seabin Project é um projeto que também causou enorme repercussão na mídia. Muitos familiares e amigos meus me enviam links ou me marcam em postagens no Facebook sobre essa invenção, que consiste em um tubo que aspira a água da superfície através de uma bomba, transportando o lixo flutuante para o interior desse tubo que contém uma rede, onde o lixo vai se acumulando.
A ideia é muito boa para regiões com águas calmas, próximas à rede elétrica e pouco poluídas, pois a estrutura não comporta grande quantidade de resíduos. Uma solução paliativa para regiões abrigadas, interessante para ser utilizada em marinas, por exemplo, mas inviável em diversos aspectos para a nossa realidade.
Em terra
Para combatermos esse grave problema devemos voltar nossos olhos, pensamentos e ações para as regiões costeiras, direcionando nossos esforços na elaboração de projetos focados na redução do aporte de resíduos aos oceanos, levando em conta sobretudo as diversas singularidades regionais. Combater a poluição marinha nos giros subtropicais é o mesmo que tratar um paciente com hérnia de disco utilizando analgésicos.
Cerca de 80% da poluição marinha tem origem no descarte incorreto em terra, e é na região costeira que a poluição por resíduos sólidos, especialmente o plástico, causa maior impacto à fauna marinha, pois é nessa região que se concentra a maioria dos animais, incluindo peixes, tartarugas, mamíferos e aves marinhas, que acabam confundindo plástico com alimento. Quanto mais nos afastamos da costa, mais estéril se torna o oceano. Por isso, limpar o meio do oceano se torna menos eficaz em relação às iniciativas que busquem a limpeza e recuperação de manguezais, rios e estuários. Sem dúvida, faz muito mais sentido retirar resíduos de corpos aquáticos terrestres e evitar que cheguem aos oceanos. Contudo, além da necessidade de projetos voltados para a despoluição e recuperação ambiental em regiões costeiras, precisamos que políticas públicas de habitação e saneamento básico sejam colocadas em prática urgentemente em todos os nossos municípios.
Também é fundamental que a imprensa não preste um desserviço ambiental pela maneira como aborda certos projetos, que possuem o seu valor, devem receber atenção e reconhecimento, porém, não podem gerar expectativa no leitor de que surgiu alguém ou algo que nos livrará do problema. Como diz o ambientalista Robert Swan, "A maior ameaça para nosso planeta é a crença de que alguém irá salvá-lo".
Na ferida
Tratando-se do litoral paulista, temos o estuário de Santos e São Vicente como a principal fonte de poluição marinha por resíduos sólidos, proveniente sobretudo de enormes favelas de palafitas localizadas em áreas invadidas de mangue. Tais favelas geram diariamente uma enorme quantidade de resíduos que são descartados diretamente nos manguezais e transportados por correntes de maré para a baía de Santos. Uma parte dos resíduos se acumula em costões rochosos e praias da região e outra parte atinge correntes costeiras, espalhando-se pelo litoral do estado.
Com o intuito de reduzir a poluição marinha e costeira no litoral paulista, desenvolvemos em 2009 o projeto "Sistema Ambiental de Coleta de Resíduos", que possui como objetivo principal a limpeza e a recuperação de áreas degradas de mangue, através da formação de uma frente de trabalho formada por jovens moradores de palafitas em situação de vulnerabilidade social, envolvendo educação ambiental e geração de renda por meio da reciclagem. A ideia é que esses jovens se tornem agentes ambientais dentro da própria comunidade e que a recuperação das áreas degradas, seja feita gradativamente ao passo que as famílias são transferidas para conjuntos habitacionais, impedindo dessa forma que novas palafitas ocupem novamente essas áreas, promovendo o congelamento e a diminuição das favelas de palafitas no manguezal.
Desde então estamos em ininterrupta tratativa com a Prefeitura de Santos para celebração de um Acordo de Cooperação Técnica que propicie o início das atividades, tendo como única contrapartida para o município a cessão de uma área próxima ao mangue ocupado por palafitas, onde toda a infraestrutura para o trabalho de coleta e triagem dos resíduos terá recursos captado junto ao setor privado.
As ecobarreiras que serão utilizadas no projeto já foram aprovadas pela Câmara Municipal de Santos, através de projeto de lei do vereador Kenny Mendes (PSDB). No momento a minuta do Acordo de Cooperação Técnica passa por avaliação na Secretaria do Meio Ambiente e a expectativa é de que seja enviado para assinatura do prefeito Paulo Alexandre Barbosa entre maio e junho deste ano.